Segunda, 4 de Novembro de 2024

VII SEMINÁRIO PROJETO SAF JUÇARA ACONTECE EM SETE BARRAS

A ONG japonesa VERSTA, em parceria com o Instituto Florestal, da Secretaria de Infraestrutura e do Meio Ambiente, realizará o VII Seminário Projeto SAF Juçara, em Sete Barras (SP) no dia 24/02/2021.

Este evento vinha sendo realizado anualmente na sede da Associação Nipo-Brasileira do Bairro da Raposa e Região (ANBBRR), no mesmo município, mas dada a necessidade de se realizar online por causa da Pandemia do coronavírus e como a internet não alcança o Bairro da Raposa, foi deslocada para as instalações de Prefeitura de Sete Barras, onde haverá também sessão presencial, voltada aos moradores de bairros mais distantes inacessíveis à internet.

O evento será realizado conforme programação abaixo, tendo como foco principal a polpa de juçara, com as palestras da Profa. Dra. Veridiana Rosa de Rosso, do campus da Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo que falará sobre as possibilidades de produção do suplemento alimentar e, do Gilberto Ohta de Oliveira, Diretor da Cooperativa de Agricultura Familiar de Sete Barras sobre a situação atual e perspectivas da polpa de juçara. Outra palestra é do Roberto Resende, Presidente da ONG Iniciativa Verde, que falará sobre a comercialização de CO2 fixado com as florestas plantadas.

PROGRAMAÇÃO DO VII SEMINÁRIO PROJETO SAF JUÇARA

Local da sessão presencial: Centro de Convivência do Idoso (CCI) da Prefeitura Municipal de Sete Barras (SP).

Data: 24/02/2021 (Quarta-feira) Link para inscrição: https://bit.ly/2LOKol4.

Organizadores: ONG VERSTA, Instituto Florestal e Prefeitura Municipal de Sete Barras (SP): 8:30h Credenciamento e café de boas-vindas / 9:00h Abertura: Luís Alberto Bucci – Diretor Geral do Instituto Florestal / 9:10h Saudações do Cônsul Geral do Japão em São Paulo Ryosuke Kuwana / 9:20h Saudações de autoridades brasileiras / 9:30h Saudações do Prof. Dr. Nobuo Yamamura – Universidade de Takushoku e Presidente da ONG VERSTA / 9:40h Saudações do Prof. Dr. Kojiro Takeshita – Universidade de Takushoku e Diretor da ONG VERSTA / 9:50h Palestra de Yoshikazu Onose – Diretor Superintendente da ONG VERSTA – O Projeto SAF Juçara / 10:20h Palestra do Gilberto Ohta de Oliveira – Diretor da COOPAFASB – Situação atual e perspectivas da polpa de juçara / 10:50h Palestra da Profa. Dra. Veridiana Vera de Rosso – UNIFESP – Campus da Baixada Santista - Possibilidade de produção de suplemento alimentar da polpa de juçara / 11:20h Palestra de Roberto Ulisses Resende – Presidente da ONG Iniciativa Verde - Sobre Carbon Free / 11:40h Encerramento – Guenji Yamazoe – Representante da ONG VERSTA no Brasil.

A ONG japonesa VERSTA foi constituída em 2009 por empresários, professores universitários e profissionais da área cultural, predominantemente de músicos, visando contribuir para a sustentabilidade global do clima, recuperação das florestas tropicais por meio de sistemas agroflorestais e criar uma sociedade de baixo carbono. O seu nome resulta do VER do VERDE e STA de FESTA, ambos os termos em português/espanhol. O seu logo original foi substituído por uma palmeira estilizada com frutos, dada à importância relativa do projeto da palmeira juçara dentro da entidade.

Projeto SAF Juçara, vem sendo realizado desde 2012 no Vale do Ribeira pela ONG japonesa VERSTA. No período de 2012 a 2019 o projeto teve o patrocínio ininterrupto do Fundo Global do Meio Ambiente do Ministério do Meio Ambiente do Governo do Japão. A partir de 2020 é patrocinado pelos Fundos de Meio Ambiente das empresas Mitsui e Aeon. O objetivo superior do projeto é contribuir na redução do efeito estufa global, mediante recuperação e conservação da Mata Atlântica. O objetivo local é a melhoria das condições de vida dos pequenos agricultores, por meio dos sistemas agroflorestais (SAF), assegurando em curto prazo o aumento da renda familiar mediante cultivos agrícolas e em longo prazo a recomposição da Mata Atlântica, tendo como palmeira juçara a espécie principal. O projeto tem como unidade de trabalho os plantios demonstrativos em parceria com os agricultores. A partir de 2018 o projeto passou a trabalhar também com repovoamento da palmeira juçara em vegetação secundária, que é o plantio dessa palmeira à sombra de bananais abandonados ou sob árvores da floresta secundária. Até 2019 o projeto contava com 15 parceiros e área plantada de 13 hectares. Em 2020 registrou expressivo aumento, passando para 21 parceiros, com 34 hectares plantados.

A palmeira juçara (Euterpe edulis Mart.) é nativa da Mata Atlântica e originariamente ocorria em alta densidade, chegando a 500 árvores adultas por hectare. O seu broto novo, conhecido como palmito era tradicionalmente muito apreciado como culinária fina. Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao rei de Portugal, anunciando a descoberta do Brasil, já relata a existência da palmeira juçara no Brasil e as delícias do seu palmito. A partir da década de 1960, com o início de exportação do palmito, principalmente para Estados Unidos, Argentina e França, a palmeira juçara passou a ser explorada de forma predatória e indiscriminada, principalmente no Vale do Ribeira, dada a proximidade do porto exportador de Santos. Procurando refrear essa devastação, na década de 1980 o governo impôs medidas rigorosas para controlar sua exploração. Porém dada a sua facilidade de abate e baldeio da mata e dificuldade de vigilância, o seu corte clandestino se intensificou, primeiro nas propriedades particulares e depois nos Parques Estaduais e Estações Ecológicas sob administração do Estado e atualmente a juçara consta na lista das espécies ameaçadas de extinção. A palmeira juçara é considerada a espécie mais importante da Mata Atlântica. Dada a sua frutificação regular e abundante, cerca de 70 espécies da fauna do bioma dependem da juçara para sua sobrevivência. Como o seu período de frutificação é curto, 2-3 meses, as aves principalmente, se alimentam de frutos de outras espécies, ajudando na sua dispersão. Assim, o risco de sua extinção, como ocorre atualmente, provoca sério desequilíbrio ecológico da Mata Atlântica, daí a necessidade urgente de sua recomposição.

Desde há uns 20 anos a polpa dos frutos da palmeira juçara vem sendo consumida como sucos, geleias, cremes, doces, etc. de forma similar à polpa de açaí da Amazônia. Porém a polpa de juçara é muito mais rica em nutrientes como antocianina, flavonoides e substâncias antioxidantes. A polpa de juçara hoje é um produto regulamentado pelo Ministério da Agricultura, com seus parâmetros estabelecidos e sua comercialização é livre. Sua extração é autorizada, tanto pelo Código Florestal, como pela Secretaria e Infraestrutura e Meio Ambiente, mediante plano de manejo aprovado. O preço mínimo dos frutos está fixado pela CONAB. A extração do palmito implica no abate de uma palmeira, que gera renda uma única vez, após espera de 8-10 anos e sem possibilidade de rebrota, no caso da juçara. Por outro lado, a coleta e comercialização de frutos assegura uma receita anual durante mais de 30 anos, a partir dos 6-7 anos, num processo literalmente sustentável, podendo dessa forma acabar com a extração Ilegal do palmito, mas para que essa expectativa se concretize, há necessidade de valorizar a polpa de juçara, mediante desenvolvimento de usos mais nobres e aumentando o seu valor agregado. Essa pesquisa já vem sendo realizada, como a da Profa. Dra. Veridiana Rosa de Rosso, do campus da Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo e uma das palestrantes do Seminário.

Ao longo da implementação do Projeto SAF Juçara, mediante consorciação de palmeira juçara com lixia, goiaba, bananeira, etc. este projeto encontrou uma combinação muito interessante com chá. O cultivo de chá na região de Registro teve início com os imigrantes japoneses na década de 1930, primeiro com o chá da China que existia no Brasil, desde os tempos de D. João VI e depois foi substituído pelo chá de Assam, da Índia, tornando a região maior produtora de chá do Brasil que, além de abastecer todo o mercado nacional, passou a exportar para Argentina e Chile. Entretanto a política cambial adotada em meados de 1990 privilegiou a importação, levando a indústria de chá da região ao quase completo abandono. Em 2015, dentro do Projeto SAF juçara foi testada a poda dos chazais cobertos pela vegetação secundária. A poda de chazais com 4-5 metros de altura abriu uma clareira suficiente para propiciar brotação vigorosa das cepas que passaram a produzir chá artesanal, orgânico e ecológico de alta qualidade e hoje é comercializada sob nome de “chá da floresta”. Toda a vegetação nativa foi mantida, promovendo sombreamento adequado aos chazais para a melhoria da qualidade do chá produzido. Entre a vegetação nativa foram encontrados alguns pés de palmeira juçara, já em plena produção de frutos. Ao projeto SAF juçara coube apenas plantar complementar, plantando mudas da palmeira nas falhas dos chazais. Passou-se assim a ter um modelo produtivo de dois andares, os frutos de juçara no andar de cima e as folhas de chá no andar de baixo.
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